No livro "Teoria dos sentimentos morais" Adam Smith, o pai da economia, destilou argumentos perspicazes para ilustrar a natureza egocêntrica do ser humano e usar pela primeira vez o termo "mão invisível". No livro ele constrói diversos dos conceitos que mais tarde utilizaria em sua obra máxima, fundadora da moderna ciência econômica, "A riqueza das Nações". Uma passagem marcante deste último ilustra como o mercado verdadeiramente funciona:
"...O homem, entretanto, tem necessidade quase
constante da ajuda dos semelhantes, e é inútil esperar esta ajuda simplesmente da
benevolência alheia. Ele terá maior probabilidade de obter o que quer, se conseguir
interessar a seu favor a auto-estima dos outros, mostrando-lhes que é vantajoso para eles
fazer-lhe ou dar-lhe aquilo de que ele precisa. E isto o que faz toda pessoa que propõe
um negócio a outra."
"...Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso
jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse..."
A análise fria e sistematizada, feita por Smith, do funcionamento do mercado, das instituições, do comportamento econômico e, em última instância, do que traz riqueza a uma nação inaugurou uma nova forma de investigação das engrenagens sociais. Com o objetivo de elucidar o resultado das interações entre os agentes econômicos, Smith lançou mão de modelos de análise que iam do micro para o macro, verificando como os fenômenos realmente ocorriam na vida real e não como deveriam ocorrer. Seu método veio fundamentar o método empírico de estudo no âmbito das ciências sociais. Era uma tentativa, portanto, de aplicar à economia o que na época Isaac Newton fizera de forma revolucionária à física, descrevendo as leis que governavam a natureza na linguagem exata da matemática.
Esta tradição de análise inaugurada por Smith em 1776 é que é a responsável por todo o conhecimento amealhado pela ciência econômica até os dias de hoje. Através dela é que as boas políticas econômicas levadas a termo pelos Governos devem se basear, como por exemplo a compreensão já pacificada que o mercado é o modo mais eficiente de dirimir os problemas da alocação eficiente dos recursos. Nada foi criado pelo homem que resolva esta questão de forma mais satisfatória, a maioria dos problemas nascem quando os governos tentam sanar as falhas (sim ele tem falhas) do mercado se intrometendo onde não é aconselhável, pois o custo gerado por esta invasão geralmente é maior que o mal que ele tentou evitar. (principalmente quando desembocam em regimes ditatorias altamente perniciosos à sociedade)
Podemos medir o grau de intromissão do Estado na economia por diversas métricas. Uma bem utilizada é o percentual de impostos sobre o PIB. O coeficiente ideal geralmente leva em conta o perfil demográfico do país e o seu nível de renda per capita. Para o Brasil por exemplo este indicador não deveria superar 25%, pois é, mas aqui a carga tributária chega a 38% do PIB. (13 pontos percentuais a mais do que máximo aconselhável).
Vamos fornecer outros números para diagnosticar o espaço ocupado pelo nosso Estado.
- Nos últimos 15 anos (segundo dados da FGV) o setor público absorveu 66,8% da riqueza produzida no país, restando para o setor privado 33,2%.
- Existem 39 ministérios ou secretarias com status de ministério;
- 22% da população economicamente ativa trabalha para o Governo (no Chile este número é de 10%)
- Cargos nomeados (ou de confiança - aqueles ocupados sem concurso público) são da ordem de 600.000. Nos EUA por exemplo este número é de 2.000, França e Alemanha 500, na Inglaterra 100.
- Conforme dados da Transparência Brasil gasta-se R$6,6 milhões por ano com cada deputado e R$ 33 milhões com cada senador. É o parlamento mais caro do mundo (e olha que estes números já devem ser maior porque o estudo pega como base o ano de 2007).
Qualquer dos parâmetros que descrevi dá uma noção assustadora da obesidade do nosso Estado. O problema fica ainda mais flagrante quando avaliamos o retorno em serviços que recebemos. Estradas esburacadas, filas imensas para se ter atendimento médico, educação esdrúxula, violência, ausência de saneamento básico, aeroportos sucateados, previdência social cara e deficitária, energia cara e um espetáculo diuturno de corrupção nos telejornais. Parece que tudo em que põe a sua mão (bem visível por sinal) o Estado brasileiro mais estraga do que conserta ou desenvolve. Como diz um renomado economista brasileiro. "É uma carga tributária sueca e uma qualidade de serviços nigerianos."
Nenhum comentário:
Postar um comentário