domingo, 9 de dezembro de 2012

EDUCAÇÃO BRASILEIRA - UM RETRATO DA DESGRAÇA

De todos os problemas urgentes que o Brasil precisa resolver para se tornar uma nação desenvolvida o mais importante disparado é sem dúvida a educação. Conforme realçado no excelente livro "Linhas de Falha" do economista Raghuram Rajan: 
"A educação desempenha um papel muito maior do que simplesmente melhorar a renda de um indivíduo e as suas perspectivas profissionais: ela tem um valor intrínseco, permitindo-nos fazer uso de nossas melhores capacidades. Além disso, as pesquisas demonstram que as pessoas de boa formação em geral cuidam melhor de sua própria saúde, são menos propensas a se envolver com atividades criminosas e têm maior tendência a participar de atividades cívicas e políticas. Adicionalmente, induzem seus filhos a fazer o mesmo, de modo que sua formação tem efeitos benéficos também sobre as gerações futuras."

Existe uma máxima que diz que aquilo que não é medido não é melhorado, portanto a primeira coisa a saber quando queremos avançar é conhecer de onde estamos partindo, no caso da educação no Brasil, estamos iniciando de uma posição bem retardatária, funda e apagada. Vamos então a alguns números que retratam o cenário de desgraça. (A maioria da estatísticas foram retiradas do magnífico livro "O quê o Brasil Quer Ser Quando Crescer" do economista Gustavo Ioschpe, que todo brasileiro deveria ser obrigado a ler, da coluna do economista Naércio Menezes Filho no Valor Econômico e em pesquisas de minha própria autoria em institutos estatísticos especializados)

De acordo com dados do INAF (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional) realizado pelo Instituto Paulo Montenegro, temos no Brasil 74% de analfabetos funcionais (isso mesmo não se assuste não é erro de digitação, 74%), pessoas que não tem capacidade de ler e interpretar um parágrafo de  jornal. Segundo o mesmo instituto 77% da população não consegue resolver um problema matemático que envolva mais de uma operação ou entender tabelas e gráficos. Dados da Unesco relatam que 31% de nossos alunos da primeira série do ensino fundamental são repetentes (para se ter uma idéia na China e na Russia esta taxas são de 1% e em países industrializados de 0%). Na segunda série mais 20%, ou seja, é possível que já nos primeiros dois anos mais da metade dos alunos já tenham repetido de ano.

O SAEB é um sistema de avaliação do ensino básico e mede a qualidade da educação da quarta, oitava e decima primeira séries. Na edição e 2003 apontou que 95% não tinha desempenho adequado em leitura e que desde 1995 os resultados médios só caem, tanto em Português quanto em Matemática. O PISA (programa internacional de avaliação de alunos) da OCDE avaliou jovens de 15 anos de 40 países e ficamos em último lugar em Matemática e 37º em leitura.

Em pesquisa recente realizada pelo Banco Mundial com escolas Públicas do Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais mostraram que apenas 62% do tempo de aula é efetivamente utilizado para o ensino (comparados a 85% nos países bem sucedidos da OCDE), o resto do tempo é gasto com chamada, atrasos, manter a classe em silêncio ou o professor está fora da sala. Em 2010, tínhamos cerca de 10% da população adulta com diploma de curso superior (no México é 15% , Chile 25% , Coréia 40%).

Em recém implantado exame pelo conselho regional de medicina de São Paulo para recém formados, 54% foram reprovados. Em direito, pela OAB, 84% e em contabilidade, pelo CRC, 60% dos contadores não passaram na prova.

Os dados mostram sistematicamente que nosso ensino é de péssima qualidade,  que gasta mal seus recursos (que ao contrário do senso comum recebe um bom volume de dinheiro, no mesmo nível de países campeões de ensino), que treina pouco e mal seus professores, que administra a performance sem premiar o mérito e desperdiça tempo com outras tarefas fora do propósito principal que é de ensinar.

Uma grande trava para se avançar na educação são os diagnósticos errados do problema, geralmente contaminados de conteúdo ideológico e interesses escusos: O professor ganha mal, as salas estão superlotadas, as escolas não dispõe de recursos suficientes, os pais não se envolvem, os professores sofrem violência em sala de aula. Tudo balela que não encontra base na realidade, os dados empíricos e a comparação com outros países apontam para outras  causas totalmente diversas.

O fato é que é possível melhorar muito com o que já temos. Premiar os bons professores e punir os maus, focar o ensino e as avaliações nas disciplinas básicas (ciências, matemática e leitura), passar mais tarefas de casas e corrigir os erros, montar aulas de recuperação e reforço para os potenciais repetentes, estimular a leitura, procurar demonstrar aos alunos a aplicabilidade prática do conteúdo ensinado, acabar com a praga da cola são algumas das recomendações que já produziram excelentes resultados em outros lugares e aqui mesmo no país.

O conhecimento fornece significado às coisas, desenvolve o senso crítico e capacita o ser humano a exercer sua liberdade em sua plenitude. O Brasil só será alguma coisa se começar a resolver este problema persistente e estrutural de nossa história.

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