Nós seres humanos somos criativos para tudo, inclusive para cunhar frases de efeito. Vamos dar uma olhada em algumas usadas no dia a dia supostamente para explicar os motivos de uma derrota, as razões para abandonar uma luta, as desculpas por não ter conseguido uma vitória ou o porquê de determinado insucesso.
- Aqui sempre foi assim.
- Eu fiz apenas o que me mandaram fazer.
- As coisas são do jeito que são.
- Não adianta nem tentar.
- Isso é impossível.
- Ninguém conseguiu, por que você acha que contigo vai ser diferente ?
- Já era.
- Foi pura falta de sorte.
- Ninguém podia imaginar.
- Eu te avisei.
- Pelo menos você participou.
- Hoje não era o seu dia.
- Deixa pra lá, esquece.
Thomas Hobbes escreveu que a humanidade possui uma inclinação natural, perpétua e incansável de desejar o poder, o status, sentimentos estes que só cessam com a morte. Quando compramos aquele carro que estávamos há tempo espreitando, começamos a aspirar uma nova casa, depois um celular mais moderno, uma viagem para Paris, um novo emprego e assim por diante, num ciclo infindável de desejo, ambição e insatisfação com o status quo.
Ao contrário do que provavelmente o padre ou o pastor da sua igreja ira dizer, assim como os moralistas da família ou aquele livro de auto-ajuda, não há nada de errado com esta insaciabilidade. Sem ela não iríamos adquirir conhecimento e a força de vontade necessárias para superar as adversidades colocadas no caminho da nossa espécie desde os primórdios até os dias de hoje. A sobrevivência assim com a melhoria contínua da qualidade de vida dependem deste ciclo ininterrupto de ambição e desejo.
Se de uma hora para outra a humanidade se contentasse com o que já tem seria o início do fim.
Dito isto de forma mais geral, precisamos no entanto avaliar o caso individualmente. Mesmo que você seja o Bill Gates certamente haverá desejos que não poderão ser alcançados. Seja num relacionamento amoroso, numa partida de tênis ou numa oportunidade de negócio, a frustração pelo fracasso se fará presente algumas vezes.
O professor de filosofia e ciência social, Robert E. Goodin, ressalta em seu recente livro On Settling, a importância de se ajustar a problemas não resolvidos até para continuar lutando por novos outros problemas. Algo como esquecer ou deixar "guardado" aquela venda que você perdeu para um concorrente, por exemplo, para conseguir concentrar o foco e as forças na reforma do apartamento. De acordo com o Goodin, para se lutar arduamente por um objetivo você antes têm que se livrar daqueles outros que eventualmente você não teve sucesso.
Este comportamento deve ser praticado para que o fantasma do problema não resolvido não te assombre quando você precisa de entusiasmo e confiança para a nova luta. É como se um ente querido que desapareceu e que não pode ser declarado como morto. Enquanto a notícia definitiva não vem todos os seus planos e instintos estão "aprisionados" e não se voltam para os novos desafios.
Não se trata de admissão de incapacidade ou derrota, apenas uma recalibragem de esforço ao fim do qual o antigo problema poderá ser retomado. Fazendo uma analogia simples, é como numa prova de vestibular, quando você se depara com uma questão que não consegue resolver. A melhor coisa a fazer é partir com tudo para as próxima questões e ao final voltar para tentar a solução do problema ignorado.
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