O renomado macroeconomista brasileiro José Alexandre Scheinkman, professor de Princeton, afirmou em recente entrevista para a Folha (clique aqui) que a incompetência e a ideologia do governo explicam as ações (e omissões) equivocadas que vem provocando verdadeiros estragos na economia do país.
Erros de diagnósticos feitos pelo governo quando da crise de 2008 acarretaram a administração de remédios errados. Ali diferentemente das economias atingidas diretamente pela crise, não tínhamos restrição de demanda e risco de deflação, além disso com as taxas de juros internacionais atingindo patamares negativos, continuamos recebendo grandes volumes de capital externo. Diante deste cenário o relaxamento da política monetária é que deveria ser o carro chefe. "Ocorre que a reação da política econômica brasileira foi a de se comportar como a crise ameaçasse deixar o Brasil numa situação semelhante à dos países centrais...Como se houvesse o risco de uma situação de estagnação keynesiana, o Brasil reagiu a crise com uma política fiscal agressiva de aumento dos gastos públicos, principalmente através dos gastos correntes do governo". É o que afirma André Lara Resende num capítulo de nome sugestivo A oportunidade perdida: o equívoco da resposta à crise do seu paper "A Armadilha Brasileira".
Numa decomposição do PIB do último mandato de FHC e dos dois mandatos presidenciais de Lula, Marcos Lisboa e Samuel Pessoa mostram que a diferença do maior crescimento apresentado no governo petista é quase que inteiramente explicado pela PTF - produtividade total dos fatores (capital, capacidade total instalada e trabalho são praticamente idênticas). O importante a se realçar é que este indicador é geralmente impactado por reformas feitas em períodos anteriores defasados no tempo (outros estudos mostram por exemplo que foram as reformas do PAEG introduzidos no governo Castelo Branco que levaram ao milagre econômico), ou seja, foram basicamente as reformas na área de crédito, serviços e de cunho fiscais feitas na época de FHC que provocaram a melhoria institucional e maior crescimento nos 8 anos de Lula. (leia o paper aqui)
As constantes desonerações tributárias para agradar setores com poder vocal relevante também produziram seus estragos. Além das distorções de preços e de incentivos perversos (fica o mau exemplo para quem ainda não foi pedir agrado ao governo que vale a pena fazer pressão à gastar com inovação por exemplo) no longo prazo o populismo tributário sem a correlata diminuição dos gastos tem efeito de expansão fiscal, produzindo pressão inflacionária e necessidade de mais aperto monetário no futuro. Um artigo interessante dobre o assunto escrito pelo economista Fabio Kanczuk pode ser lida aqui.
As políticas protecionistas também são outra marca forte da equipe econômica. Exigências de conteúdo nacionais, aumento de alíquotas de importação e imposição de barreiras não tarifárias são lançadas a todo momento. O resultado é um pais com o menor índice de importação (relativo ao PIB) do planeta e uma estrutura industrial cada vez menos integrada às cadeias de excelência internacional. Edmar Bacha relata alguns exemplos e suas pérfidas conseqüências para o país aqui e aqui e aqui.
Poderíamos discorrer aqui sobre diversos outros temas onde o governo atuou de forma lastimável, evidenciando que a hipótese da incompetência da equipe econômica é a que mais se aproxima do diagnóstico correto quando se avalia as causas do pífio desempenho brasileiro, especialmente do período Mantega em diante. Maquiagem das contas públicas, controle dos preços da gasolina, leniência com a inflação e escolha de campeões nacionais via BNDES são alguns dos exemplos mais flagrantes.
O resultado da barbeiragem aparece de forma cada vez mais acentuada nos diversos indicadores de conjuntura. Resta saber agora se o indicador político mais importante, as urnas, também se manifestará de forma negativa e derradeira para reprovar os atuais condutores desta forma de se fazer economia. É o velho desenvolvimentismo pairando novamente aqui na terra brasilis.
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