terça-feira, 9 de abril de 2013

ECONOMIA E ECONOMISTAS

Economia é uma ciência em formação. Você não vê nas ciências exatas como na física ou química duas teorias que ora uma prevalece, ora é outra. Algo como newtonianos contra eisteinianos é inconcebível, pois uma vez testado e reconhecido pela comunidade científica um paradigma substitui outro e ponto final. Na economia até hoje, quase 250 anos depois, ainda não chegamos a conclusão do papel do Estado. Quem está certo Keynes ou Hayek, Samuelson ou Friedman ?

Certa vez um matemático desafiou o grande economista Paul Samuelson a apresentar uma idéia em economia que fosse verdadeira, como um axioma matemático, e não óbvia. Samuelson, laureado com Nobel de economia em 1970, apresentou a Teoria das vantagens comparativas como resposta. Mas o fato é que realmente existem poucas ou nenhuma certeza em economia, pelo menos no mesmo grau das ciências chamadas duras (física, química, biologia, matemática, medicina).

Na esteira da mecânica newtoniana da segunda metade do século XVIII surgiu a economia, que se pretendia, assim como a física, determinar as leis da natureza que poderiam ser aplicadas com a mesma segurança da lei da gravidade às interações sociais. (O curioso é que o próprio Isaac Newton, um dos maiores gênios que já passou pela terra, perdeu uma fortuna especulando na Bolsa de Londres). Adam Smith pavimentou o caminho. Seu insight acerca da mão invisível persiste até hoje como um dos maiores achados em ciência social. Cada indivíduo motivado pelo próprio egoísmo e deixado livre, procurará, em um mercado competitivo (esta premissa é importante) produzir cada vez mais, com melhor qualidade e menor custo com vistas a aumentar seu lucro. Este sistema, como que coordenado por uma mão invisível, tratará de entregar prosperidade, desenvolvimento e riqueza para a sociedade.

Uma das definições preferida acerca do que é economia foi dada por Lionel Robbins que afirma ser ela "a ciência que estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos."

John Maynard Keynes, sem dúvida um dos maiores expoentes da história econômica certa vez declarou:
"O estudo da teoria econômica não parece exigir qualquer dom especializado de grande profundidade. Não é assunto relativamente fácil quando comparado com a filosofia ou a ciência pura. Uma disciplina fácil, em que poucos se sobressaem. O paradoxo talvez seja explicado pela constatação de que o economista deve ter uma rara combinação de dons. Tem de ser matemático, historiador, estadista, filósofo, em certa medida. Deve entender de símbolos e falar através de palavras. Deve ver o particular em termos do geral , e abranger o abstrato e o concreto do mesmo pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado para entender o futuro. Nenhuma parte da natureza humana ou de suas instituições deve ficar completamente fora do seu olhar. Deve ser ao mesmo tempo desinteressado e interessado, tão distante e incorruptível quanto um artista e, às vezes, tão próximo da terra quanto um político".

A dificuldade em economia esta em seu objeto. Sempre mutável. assim como também da necessidade de que seu estudioso se dispa de idéias pré-concebidas, vícios e credos, o quê quase sempre é improvável de ocorrer em sua plenitude.  A matemática de Euclides de 2000 anos atrás serve de base para explicar a moderna teoria das cordas dos dias de hoje. O mundo da economia é diferente. O trabalho não é mais escravo. A moeda não é mais metálica mas fiduciária. As fronteiras não são mais fechadas mas abertas ao comércio de bens e serviços. As comunicações e os transportes são instantâneos, a igreja já não mais monopoliza o pensamento. Juros não é mais proibido.

Ao declarar que as pestes, doenças, guerras e fome têm como objetivo equilibrar a quantidade de alimentos à quantidade de pessoas (Malthus); ou de que os trabalhadores se revoltarão e tomarão as rédeas do Estado para tomar o capital e socializar os meios de produção (Marx); ou de que o Governo deveria restringir sua área de atuação à educação, saúde e segurança (Friedman) , acabam os economitas por angariar pouca simpatia e compreensão do público em geral.

As crises financeiras, bancárias, de dívida e crédito foram amainadas ou acentuadas pela ação dos estudiosos de economia? O desemprego, desigualdade de renda e a inflação foram domadas pelas instituições e políticas criadas e recomendadas pelos economistas ? 

Democracia, livre comércio, igualdade de oportunidades, educação universal, mercados não monopolizados, livre circulação de pessoas, bens e serviços são alguns pontos primordiais em que 99,99% dos economistas concordam e defendem. Baseado nesta constatação é que a minha resposta as perguntas do parágrafo anterior é afirmativa. Muito ainda há por se fazer mas o ferramental desenvolvido é poderoso e aparelha o raciocínio contra as armadilhas do passado.

Adam Smith, Malthus,  Ricardo, Marx (até ele), Mill, Say, Senior, Hodgskin, Bastiat, Jevons, Walras, Marshall, Veblen, Pareto, Keynes, Hayek, Schumpeter, Sraffa, Tobin, Robbins, Hicks, Fisher, Friedman, Samuelson, North, Arrow, Simolsen, Furtado, Stigler, Modigliani, Solow, Becker, Coase, Schelling, Krugman, Sargent, entre outros, erraram e acertaram mas, o norte estava certo: a busca pela prosperidade, com eficiência, riqueza e justiça.

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