sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

PREVISÕES ECONÔMICAS - FUTUROLOGIA OU CIÊNCIA

Em audiência no Senado Federal em junho deste ano o Ministro da Fazenda Guido Mantega, ajustou a estimativa para o crescimento do PIB de 4,5% para 4%. O IBGE publicou no fim de novembro o crescimento do terceiro trimestre deste ano, 0,6%. Depois deste número pífio, o Boletim Focus do Banco Central aponta para um crescimento da economia em 2012 de 1,5%, no máximo. O curioso é que quando o Banco Credit Suisse em junho deste ano através de seu report trimestral estimou que o Brasil cresceria 1,5% em 2012, Mantega disse que só poderia se tratar de uma piada.

Os economistas são constantemente incitados a fornecer previsões acerca do crescimento do PIB, inflação, câmbio, emprego, bolsas de valores e toda sorte de números da economia. Através de cálculos estatísticos sofisticados, com base em premissas rígidas (uma bastante utilizada é a "coeteris paribus" expressão em latim que pode ser entendida como tudo o mais é constante)  e usando dados amostrais do passado os economistas procuram projetar, com a menor margem de erro possível, qual seria o provável resultado da variável a ser explicada. A disciplina em economia responsável por aplicar esta sistemática chama-se econometria.

É possível efetuar previsões bem precisas através desta ferramenta. O setor de telecomunicações consegue prever com bastante sucesso o perfil de uso de um determinado novo cliente (horas de acesso a internet e minutos com ligação de longa distancia, por exemplo). Empresas de seguro usam com extrema acurácia a probabilidade de um novo segurado vir a sofrer um sinistro. Companhias de varejo acertam com margem de erro inferior a 2% o volume de vendas anual. Até mesmo a qualidade do vinho pode ser (e vem sendo) predita usando técnicas estatísticas que levam em consideração o índice de umidade do solo e o tempo na época da colheita.

O planejamento estratégico das empresas geralmente é feito para um horizonte de 5 a 10 anos no máximo. Projeções de vendas, receita, custos e investimentos são feitas com base em performances passadas e considerando determinadas alterações no ambiente de negócios. Este tipo de exercício  nas empresas geralmente já contem uma base maior de subjetivismo do que de ciência. Mas as boas práticas administrativas propõe não abrir mão desta tarefa importante de planejamento.

Entretanto existe uma seara bem ampla da economia que simplesmente é impossível (pelo menos com os recursos humanos e tecnológicos atuais) de ser alvo de previsão com boa precisão. Envolvem um volume imenso de variáveis e sofrem de viéses absolutamente incontroláveis que tornam qualquer modelagem estatística fora do alcance do mais hábil analista. Outro ponto importante é que muitas destas variáveis são influenciadas pela própria previsão. (Caso a maioria dos analistas informem que o investimento será baixo, mesmo investidores que antes estavam dispostos a gastar passarão a  pensar duas vezes) São as chamadas profecias alto-realizáveis. Outro complicador é o horizonte a que se dispõe prever. Alguns  especialistas prevêem que a Nigéria será uma das 10 maiores economias em 2050 !!!! Qualquer coisa pode acontecer em tão longo prazo. O Brasil pode ser a próxima potência no Rugbi e o Madureira campeão da Libertadores.

Taxa de câmbio, índice de inflação, índice de desemprego, crescimento do PIB são domínios da macro-economia e envolvem grande volume de dados agregados, muitos dos quais fora de qualquer esfera de influência do governo ou de qualquer ente isolado. Nosso prezado ministro deveria ter mais esmero para vir a público dizer quanto será o crescimento do PIB. Ele ocupa uma pasta eminentemente técnica e não deveria se expor ao ridículo ao anunciar um índice tão importante para a tomada de decisões dos agente econômicos com tamanha margem de erro. O que ele usa para projetar tais números? Magia, macumba ou é simplesmente um torcedor apaixonado do PIB que age no calor das emoções ?

"É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do quer falar e acabar com a dúvida".  (Abraham Lincoln).

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